De Thot a Hermes Trismegisto (Hermetismo Árabe)

De Thot a Hermes Trismegisto (Hermetismo Árabe)

Relata-se em textos árabes antigos um sábio que teria vivido no Egito antigo chamado Hermes Trismegisto ou Hermes, oTrês Vezes Grande, sendo esse o nome dado pelos alquimistas, neoplatônicos e místicos ao deus egípcio Thot, que é identificado com o deus grego Hermes.

Tanto as lendas relacionadas a Hermes como os escritos atribuídos a ele levantam inúmeras discussões, uma vez que fazem parte dos saberes a partir dos quais serviram de base para a formação da cultura árabe em seu início.

Para entender esses textos, é preciso estar ciente do contexto árabe e considerar a base onde surgiu o hermetismo árabe e sua recepção na Europa dos séculos XV e XVI e a importância do Egito Antigo.

Buscarei demonstrar o modo como ocorreu a transmissão dessa lenda e de seus conhecimentos, com enfoque principalmente na formação do Hermes Árabe e o papel por ele exercido, levando em conta o estatuto desse material no mundo e no pensamento árabe.

Os textos mais importantes atribuídos a Hermes Trismegisto são a Tábua de Esmeralda e os textos do Corpus Hermeticum.

Tanto as lendas relacionadas a Hermes como os escritos atribuídos a ele levantam inúmeras discussões, uma vez que fazem parte dos saberes a partir do qual serviram de base para a formação da cultura árabe em seu início, além de terem sido traduzidos para a língua árabe a partir de livros dos sábios da antiguidade, em que grande parte da literatura árabe foi baseada.

Para entender esses textos, é preciso estar ciente do contexto árabe e considerar a base onde surgiu o hermetismo árabe e sua recepção na Europa dos séculos XV e XVI.

No entanto, os escritos de Hermes foram estudados desde o Marrocos até a Índia, tendo adquirido maior importância na tradição árabe do que na tradição Ocidental.

De Thot a Hermes

Thot, uma das maiores divindades do panteão egípcio, foi adorado desde o Período Dinástico Inicial (c. 2920 a.C.) até o Período Romano.

O significado e origem do nome do deus são desconhecidos. Thot ou Thoth é a forma helenizada do nome Dhwty. Representado pelo babuíno (Papio cynocephalus) e pela íbis (Threskiornis aethiopicus), tanto na forma animal quanto híbrida.

A forma de babuíno do deus Thot está mais associada a aspectos lunares, ao ofício do escriba e à veneração solar.

A forma híbrida com cabeça de íbis está associada à Thot em seu aspecto de escriba divino, ao julgamento da alma, à Maat (a ordem cósmica) à purificação e investidura real. Comum às duas formas de representação de Thot está o seu aspecto lunar.

O deus Thot foi associado aos aspectos intelectuais cósmicos presentes na criação do universo, assim como às faculdades humanas relacionadas ao pensamento e à inteligência.

Sendo assim, ele está ligado à escrita, sendo chamado “Senhor das Palavras Divinas”, às ciências (medicina, astrologia, matemática), a partir do Médio Império (c. 2000 a.C.) à justiça e às leis.

Como manifestação do verbo criador, ele é chamado no templo de Opet em Karnak de “coração de Rê, língua de Tatenem e a garganta de Amon”.

Era também “aquele que separou as línguas de um país a outro” e “aquele que conta o tempo”, epítetos que o designam respectivamente como o responsável pelas línguas egípcia e estrangeiras e pelo registro da passagem do tempo.

Era tido como o escriba divino e criador da escrita, o que o fez ser associado a Hermes pelos primeiros colonos gregos que se estabeleceram no Egito, por volta do século VI a.C.

Talvez a primeira obra de caráter “hermético” produzida pelos egípcios antigos tenha sido o “Livro dos Dois Caminhos”. Esse texto aparece nos caixões da XII Dinastia (c. 1950 a.C.) encontrados em El-Bershah a necrópole do décimo quinto nomo do Alto Egito.

Nos contos do papiro Westcar o mago Djedi teria o conhecimento do número de câmaras secretas do templo de Thot, o que significaria que seus poderes mágicos viriam do conteúdo guardado nessas câmaras.

Acredita-se que esse conto tivesse sido escrito durante o Período Hicso (c. 1650 a.C), narrando acontecimentos que teriam se passado durante o reinado de Khufu (c. 2551 a.C.).

Contudo, a primeira referência a um livro escrito por Thot talvez seja uma inscrição data da XVIII Dinastia (c. 1398 a.C.), encontrada em uma das estátuas do vizir Amenhotep Filho-de-Hapu depositadas no templo de Amun em Karnak.

O texto sugere a existência de um livro que conteria os ensinamentos iniciáticos do deus, o que pode ser observado na inscrição:

Fui iniciado no livro do deus (eu) vi as glorificações de Thot e penetrei seus segredos”.

Na Baixa Época, Thot é: o grande deus “Senhor da Magia”. Há também os epítetos: “Grande em Magias”. Durante a XXVI Dinastia temos pela primeira vez o epíteto “duas vezes grande” encontrado em uma estela dedicatória datada do ano vinte de reinado do faraó Apries (c. 589 a.C.).

O qualificativo “duas vezes grande” adquire em demótico, na XXVII Dinastia, durante o reinado de Dario I (c. 521 a.C.), o advérbio “muito” e a partir do século II a.C. surge o epíteto “Três Vezes Grande”, como aparece no Templos Ptolomaicos de Dendera e Esna.

Paralelamente, Thot possui também o epíteto de “Cinco Vezes Grande”. No Período Romano, o poder atribuído a Thot era considerado tão grande que, segundo Cícero, os egípcios temiam pronunciar seu nome.

O epíteto egípcio “Três Vezes Grande” deu origem à expressão grega Trismegistos, que surgiu pela primeira vez em inscrições encontradas em Akhmim, datadas de 240 d.C.

A crença de que o próprio deus Thot teria deixado uma série de inscrições de caráter hermético pode ter surgido como vimos durante o final do Médio Império ou no Período dos Hicsos, mas é no Ciclo de Setne, datado do Período Ptolomaico onde temos uma descrição mais detalhada de um corpus de textos iniciáticos escritos pelo deus Thot.

Haveria 42 livros contendo todo o conhecimento necessário à humanidade. Nesses, 36 conteriam a ciência dos egípcios e o restante os conhecimentos de medicina, de acordo com Clemente de Alexandria.

Escrito por: Cintia Prates Facuri

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À medida que realizo meus estudos alquímicos e que busco praticar os ensinamentos da Grande Arte, trago para este espaço informações e dicas para todos aqueles que, assim como eu, enxergam a Alquimia como possibilidade de transformação e evolução.

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