VITRIOL: O Alquimista deve escavar a terra

VITRIOL: O Alquimista deve escavar a terra

“… E até que você tenha sabedoria, você morre para se tornar, você será apenas um convidado triste nesta terra escura.”  (Goethe )

A sigla VITRIOLUM (VITRIOL) é bastante usada na literatura alquímica. E, a partir de um estudo, achei interessante escrever sobre ela e a relação do processo de imersão no “interior” que todos precisamos fazer.

A sigla é feita a partir da expressão latina: “Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem“, que quer dizer: “Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta (ou Filosofal)”. Basicamente é isso. O que, evidentemente, não tem nada de simples.

Refletindo sobre essas questões, cheguei à conclusão que muito temos o que aprender com a alquimia, seu simbolismo e processos. O tão “atual” processo de autoconhecimento, que muitas pessoas estão buscando, é essa “visita” ao interior, mas claro, sem permanecer nele.

Vamos falar utilizando a simbologia alquímica, seus processos, e entender essa descida, essa morte, esse retorno à escuridão, tão necessários para o retorno glorioso, a iluminação. Particularmente, ao estudar alquimia, gosto de trazer para minha realidade. Tento compreender os processos na prática, como experiência; e não apenas como uma arte/ciência que ficou lá no passado, apenas para ser vista e admirada.

Vamos lá!

É preciso escavar a terra

Podemos dizer que penetrar a terra é o primeiro passo do processo alquímico. A terra é o corpo, na Alquimia ela é o símbolo do homem físico. Então, nesse sentido, penetrar a terra é visitar seu interior. É necessário “descer para o submundo, o inconsciente, o interior de cada um”.

Essa descida também é conhecida como “regresso ao útero” (regressus ad uterum), ao “ventre materno”, que é um retorno simbólico de um estado primordial de “ser”.

Para quê esse regresso? O homem deve estar ciente desse mundo. Ele não pode simplesmente viver na exterioridade apenas. Ao regressar, ao cavar a terra (ele mesmo), descobre quem é, o que está fazendo, o que busca… Ao voltar a atenção para o seu interior, o homem descobre um mundo novo, o submundo de “Hades”, porque não dizer: um mundo cheio de sombras e monstros.

Talvez isso assuste algumas pessoas, mas o que encontramos ao cavar a terra de nós mesmos é o submundo, a escuridão, nossas sombras, o negrume da psiquê. Por isso, o Nigredo (primeira fase da Grande Obra) é associado a símbolos como a morte, o corvo, a noite, o preto.

A descida ao submundo nas mitologias e culturas

Esse retorno também é compreendido como descida ao inconsciente. Essa descida, inclusive, traz perigos, não é tão simples assim. Tanto é que na mitologia e nas culturas temos diversas representações simbólicas desse processo. É o caso do herói que entra no submundo para lutar contra monstros e demônios.

É nas profundezas do homem que estão as verdadeiras motivações das suas ações. Desse modo, o regressus ad uterum torna-o consciente dessas motivações guardadas (e esquecidas). Podemos entender que entrar na zona de morte iluminada pela lua é condição necessária no processo alquímico (e de autoconhecimento também) para experimentar o renascimento.

Inclusive, a Mãe Terra sempre esteve associada ao nascimento, à união do homem e da mulher (como consciente e inconsciente, respectivamente), a partir do qual novas vidas surgem após a morte.

Os povos primitivos realizavam suas iniciações na escuridão, em cavernas. No Egito, as iniciações eram realizadas nas pirâmides ou nas criptas subterrâneas dos templos. Na Pérsia, em cavernas, enquanto os índios americanos em cabanas especiais. Os mistérios de Mitra foram realizados em templos construídos no subsolo. A iniciação em si foi simbolizada pela penetração do ventre da Grande Mãe, ou no corpo de um monstro marinho ou animal selvagem.

Na mitologia grega, Orfeu desceu em Hades para encontrar Eurídice (o símbolo de sua alma perdida). O deus hindu Krishna desceu ao submundo em busca de seus seis irmãos (os seis chakras, sendo Krishna o chacra da coroa). Existe uma lenda que depois de sua morte, Jesus desceu ao reino de Satanás para salvar a alma de Adão (o homem puro).

Na alquimia, essa descida ao interior é geralmente associada a cavernas, histórias de viagem ao submundo e/ou estranho lugares.

    • “Aquele que quer entrar no reino de Deus, deve primeiro entrar no corpo de sua mãe, e morrer ali.” ( Paracelso )

Na mitologia grega havia o Tártaro, um nome originalmente utilizado para indicar o submundo. Tártaro é o mundo psíquico profundo no homem, onde residem todos os instintos mais baixos, como o desejo de matar e destruir, a sede de sangue, medo, ódio, vingança, sede de poder, e assim por diante. Não é fácil admitir para si mesmos, mas todos eles residem em nós. Temos suprimido todas as nossas emoções escuras neste profundo reino do Tártaro. Esta é a herança humana, que remonta a tempos antigos.

Os metais e as emoções

É interessante citar que na Alquimia os metais estão associados às emoções e paixões do homem. O Chumbo, considerado material de partida e o metal mais impuro, representa as paixões inferiores e mais terrenas do homem. É regido por Saturno, o Deus da melancolia. Desse modo, esse metal impuro (nossas paixões e emoções inferiores) precisa ser transformado em ouro, que é o metal mais puro, símbolo do Espírito Santo.

Vamos agora observar e interpretar a imagem do VITRIOL.

Vitriol
Basil Valentine, Chymical Wedding.

Ao redor temos a frase em latin “Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”.

O Sol e a Lua são os opostos que no homem devem estar estar/ser reunidos. A taça é o símbolo alquímico do corpo. Os sinais planetários (Vênus, Marte, Saturno e Júpiter) representam as diferentes fases do Processo Alquímico.

A Águia Dupla é Mercúrio. O Leão, enxofre. E a Estrela o Sal. O globo à esquerda (com nuvens) representa o microcosmo e o que está à direita representa o macrocosmo.

A expressão “retificando” presente no centro da sigla diz respeito à necessidade de corrigir os aspectos negativos, purificar as emoções negativas. O alquimista deve se purificar de toda a “sujeira” de todos os seus “resíduos”. Deve escovar “o corpo” para melhorá-lo e aperfeiçoá-lo.

Conclusão

Cavar a terra e adentrar no abismo, na escuridão que há nela é imprescindível. Temos que saber o que está lá, o que habita em nosso “ser”. São monstros? Não são por si mesmos. São apenas características da natureza humana que foram distorcidas e suprimidas nesse submundo, em Tártaro.

Temos que enfrentar os monstros míticos nas profundezes do nosso inconsciente, pois são parte do ser humano. Não podemos simplesmente descartá-los, e sim dominá-los, aprender com eles e transformá-los em servos do Divino.

É então quando ocorre a morte simbólica da alquimia, a iniciação. É preciso o homem velho morrer para nascer o homem novo. O corpo deve ser decomposto, ou seja, é preciso mover a consciência para dentro e voltar de lá purificado, tendo conhecido os monstros das paixões e das emoções e os dominado.

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Sobre o autor | Website

À medida que realizo meus estudos alquímicos e que busco praticar os ensinamentos da Grande Arte, trago para este espaço informações e dicas para todos aqueles que, assim como eu, enxergam a Alquimia como possibilidade de transformação e evolução.

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