Simbologia do Baphomet

Simbologia do Baphomet

Apesar de ter ficado mais conhecido após à clássica obra de Eliphas Levi, Dogma e Ritual de Alta Magia, o simbolismo do Baphomet é muito anterior a ele. Para os ocultistas, a riqueza simbólica dele é mais que evidente, mas a verdade é que para muitas pessoas, trata-se de um símbolo muito mal compreendido. 

Eu mesma, no início dos estudos, fiquei bastante curiosa para saber o que haveria por trás desta imagem que, sem sombra de dúvida, “vale mais do que mil palavras”. Descobri que realmente há muita coisa interessante por trás desta imagem, e não poderia deixar de escrever sobre isso.

Mas antes, achei por bem citar a descrição feita por Eliphas Levi, no seu Dogma e Ritual. 

“O bode, que é representado no nosso frontispício, traz na fronte o signo do pentagrama, com a ponta para cima, o que é suficiente para fazer dele um símbolo de luz; faz com as mãos o sinal do ocultismo, e mostra em cima a lua branca de Chesed, e embaixo a lua preta de Geburah. 

Este sinal exprime o perfeito acordo da misericórdia com a justiça. Um dos seus braços é feminino, o outro é masculino, como no andrógino de Khunrath, cujos atributos tivemos de reunir aos do nosso bode, pois que é um único e mesmo símbolo. 

O facho da inteligência que brilha entre os seus chifres é a luz mágica do equilíbrio universal; é também a figura da alma elevada acima da matéria, embora esteja presa à própria matéria, como a chama está presa ao facho. 

A cabeça horrenda do animal exprime o horror do pecado, de que só o agente material, único responsável, deve para sempre sofrer a pena: porque a alma é impassível por sua própria natureza, e só chega a sofrer, materializando-se. 

O caduceu, que está em lugar do órgão gerador, representa a vida eterna; o ventre coberto de escamas é a água; o círculo que está em cima é a atmosfera; as penas que vêm depois são o emblema do volátil; depois, a humanidade é presenteada pelos dois seios e os braços andróginos desta esfinge das ciências ocultas.”

Eliphas Levi – Dogma e Ritual da Alta Magia, Pensamento, 1997 – pp. 337-338.

Como podemos notar, há uma variedade de símbolos no Baphomet descrito por Levi. Percebemos também que a ideia de dualidade está presente o tempo todo. Mas, como dissemos no início do texto, Baphomet vem de mais longe. 

Para os iniciados e adeptos, ele é um sacramento. Para os profanos, não passa de uma figura horripilante e esquisita. Muitas pessoas sem o conhecimento necessário acreditam ser a imagem do demônio. 

A verdade é que eles “não têm olhos de ver” e, como disse Fra. Laidah Baphometo em seu “Ensaio Analítico” sobre o Baphomet: “Eles não têm ‘olhos quem vem’ e nem ‘ouvidos que ouvem’. São cegos e surdos. Baphomet não é para estes. Baphomet é para os que têm os olhos abertos e contemplam, para os que ouvem e entendem, para os que estão despertos. Para aqueles que são capazes de trilhar o Caminho que suas mãos indicam: mergulhar nas profundezas, ascender aos céus, santificar as profundezas e as alturas, descansar sob a sombra das suas asas, sorver leite das estrelas que flui de seus seios, o elixir da eternidade”.

Origem do Baphomet

Hoje em dia, o significado real do Baphomet tem sido bastante deturpado do seu sentido original. Sua origem é um mistério, talvez por isso seu significado tenha se perdido no tempo.  O próprio Eliphas Levi se refere à fonte de onde tenha tirado a imagem, embora desconfie-se de que seja do andrógino de Kirshner.

Atualmente, longe de ser visto pelo seu significado (pelo menos aquilo que chegou até nós), o signo de Baphomet está associado muitas vezes à teorias conspiratórias religiosas. Muita coisa pode ser dita sobre a origem desta imagem, rica de símbolos e significados. Mas por hora, vamos nos deter ao seu simbolismo. 

Interpretação

Entre os chifres de Baphomet vemos claramente a tocha, mostrando que ele é aquele traz a luz da iniciação. A tocha alude ao elemento fogo (Símbolo do intelecto e do logos), uma vez que ela existe em função deste elemento. Segundo Fra. Laidah Baphometo, a tocha é também o chakra Sahasrara, o lótus de mil pétalas. 

O fogo está estreitamente relacionado aos ritos de regeneração e purificação, ou seja, à Iniciação. Desse modo, a tocha de Baphomet acende o Athanor filosófico onde é gestada a Pedra Filosofal, que será triturada para produzir o Elixir da Imortalidade (Vide: Fra. Laidah Baphometo). 

Se fizemos uma pesquisa apurada, vemos este elemento relacionado a diversas culturas e ritos. O fogo, inclusive, representa não só a purificação e regeneração, mas também a passagem de um estado para o outro. Um exemplo disso são os ritos fúnebres e a cremação de corpos, que nas culturas gregas e hindus têm esse significado. 

No Baphomet, a tocha está entre os dois chifres. Em hebraico, chifre é símbolo de poder, força. Segundo Jung, o chifre reconcilia, em si mesmo, os papéis ativo e passivo, respectivamente pela força de penetração e por sua abertura em forma de receptáculo.

Vale destacar que os chifres presentes na imagem são de caráter lunar e não solar. Para alguns são de touro; para outros, de cabra. Os dois são ligados à terra e seu aspecto fecundo, que também está associado à fertilidade e à sexualidade. Esse aspecto lunar dos chifres podem ser tomados como as forças ativas e passivas da natureza, balanceadas pelo Logos ou intelecto (a tocha).

E por falar em aspectos “ativo e passivo”, é muito interessante observar até aqui a dualidade presente no Baphomet. Em tudo vemos a ambivalência. Isso mostra claramente o caráter andrógino do símbolo. Além dos braços ― em seu aspecto duplo ―, vemos luas, chifres, a representação dos dois sexos (seio e falo).

Dando seguimento à interpretação simbólica, temos a cabeça de bode do ídolo também com representação lunar. Em sua interpretação, Eliphas Levi associou a cabeça à expiação dos pecados corporais, ligando o bode apenas ao pecado. No entanto, essa interpretação ― bastante desgastada pelo cristianismo, que associou o bode ao diabo ― não se encerra apenas ao que Levi trouxe. Segundo Fra. Laidah Baphometo em seu “Ensaio Analítico”, a simbologia referente à cabeça do Baphomet é muito mais profunda. 

Saindo do domínio apenas judaico-cristão, vemos outro panorama. Na maioria das culturas antigas a cabra era sagrada. Na Índia, ela é Prakriti (matéria), a mãe do mundo (AMMA MUNDI). Entre os babilônios era adorada como deus da fertilidade. Na Grécia, era associada à teofania, ou seja, à manifestação divina. O Baphomet também aparece com as patas de bode, que são exímios para escalar montanhas e picos rochosos. E eles o fazem com equilíbrio e coragem, habilidades esperadas do iniciado.

Na figura, vemos os seios, que estão ligados à maternidade. Eles vertem leite, ou seja, são como uma fonte. O leite é o símbolo esotérico da pura Gnosis, considerado o primeiro alimento dos iniciados; assim como é o primeiro alimento e a primeira bebida que nutre o recém-nascido. Podemos associar o leite dos seios de Baphomet como o “leite da virgem” ― expressão alquímica para o Elixir da Longa Vida.

Entre os seios e as escamas, estão presentes penas multicoloridas e policrômicas. Elas são como as penas de um pavão, que é representado em diversas culturas, sendo considerado símbolo de iluminação (Jataka Budistas) e símbolo de soberania sobre a mente (Curdistão).

No ventre do ídolo vemos escamas, mas não fica claro que se elas são de peixe ou de serpente. Eliphas Levi não elucida essas questão na sua descrição do Baphomet, no entanto, segundo ele, elas devem assumir a cor verde, fato que a relaciona com a Sephirot Netzach (vitória, firmeza) e, por consequência, à Vênus, uma divindade nativa do mar. Por causa dessa relação com Vênus (Mar), deduz-se que as escamas sejam de peixe, símbolo do elemento água associado à regeneração, purificação e à fonte de vida. 

O Caduceu de Mercúrio, posicionado na posição do falo, simboliza os fundamentos do mundo. Para algumas pessoas, principalmente da corrente judaico-cristã, a figura pode parecer pejorativa. No entanto, vale salientar que o falo na antiguidade não tinha a conotação que tem hoje. Ele era associado ao poder gerador e simbolizava o Logos Divino. Por essa razão, é venerado em diversas religiões até hoje, só que de forma velada. No caso do Baphomet, é ainda mais emblemático, pois ele é nada mais nada menos que o Caduceu de Hermes, o símbolo do equilíbrio das forças complementares.

O gesto que o Baphomet faz com as mãos é outra peculiaridade, assim como as fórmulas “solve coagula” escritas nos braços dele. A mão esquerda aponta para a lua branca, enquanto a direita aponta para a lua negra. O mudra das duas mãos representa o sinal sacerdotal do Dadouches. Os dedos esticados revelam a doutrina exotérica, enquanto os outros dedos, dobrados e escondidos na parte da palma da mão, ocultam os mistérios esotéricos, reservados apenas aos iniciados. 

As asas dão à figura um sentido sublimado, tanto no sentido espiritual, quanto no sentido alquímico. As asas estão associadas ao elemento ar e são atributos da potência cognitiva. Além do mais, se observarmos, todos os seres considerados espirituais ― e também os demoníacos ― possuem asas. Em síntese, elas representam a natureza do “ser divinizado”.

Por fim, e não menos importante, temos um dos símbolos mais conhecidos do Baphomet: o pentagrama. Posicionado abaixo da tocha, o Pentalfa é a estrela que indica a quintessência. Considerado poderoso por nomes importantes como Paracelso, Eliphas Levi, Goethe e Agrippa, o Pentagrama traz os mais sublimes mistérios da alquimia e da magia. 

Conclusão

Escrever sobre o Baphomet ― essa figura emblemática, forte e cheia de significados ― não é fácil. E o motivo é simples: sua riqueza é quase inesgotável. Cada símbolo traz diversas ramificações, significados em todas as culturas, fazendo dele não só um espelho do iniciado na Grande Obra, mas, como disse Fra. Laidah Baphometo, um hieróglifo dos Mistérios mais sublimes e terríveis. 

Com certeza, há muita coisa ainda a ser dita e descoberta sobre o Baphomet. Pelos séculos, como foi até então, seguirão os mistérios dessa figura, dando-nos a oportunidade de penetrar neste universo rico e fantástico de símbolos, signos e enigmas. 

Se o assunto interessou e deseja conhecer mais, o pessoal do Canal Caminhos da Humanidade tem um Curso de Simbolismo que eu recomendo bastante. Para saber mais, é só clicar aqui.

Bibliografia e Referências consultadas:

Dogma e Ritual de Alta Magia (Eliphas Levi)

Baphomet – Um Ensaio Analítico Simbólico ( Fra. Laidah Baphometo)

Sobre o autor | Website

À medida que realizo meus estudos alquímicos e que busco praticar os ensinamentos da Grande Arte, trago para este espaço informações e dicas para todos aqueles que, assim como eu, enxergam a Alquimia como possibilidade de transformação e evolução.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Seja o primeiro a comentar!