Alquimia Introvertida e Alquimia Extrovertida

Alquimia Introvertida e Alquimia Extrovertida

A Alquimia como a conhecemos hoje é a junção de duas vertentes ou aspectos: extrovertida e introvertida. E vem desde o Egito antigo e da Grécia, uma vez que é possível observar muito claramente que a nossa amada Alquimia traz uma herança dessas duas civilizações, seja no aspecto religioso, filosófico ou prático.

Vamos conversar um pouco como isso se deu para criar um entendimento melhor sobre o assunto. 

Breve história da Alquimia

Seja qual for a faceta da Alquimia que se pretenda estudar, é importante conhecer sua história e evolução. Assim como é interessante conhecer o mínimo sobre cada “tipo de alquimia”, pois as correspondências são reais. 

Por exemplo: o estudo da alquimia da consciência — ou da alma — não dispensa conhecer o mínimo sobre símbolos, o mínimo sobre as operações de laboratório, o mínimo sobre os metais, a influência planetária e outros assuntos associados à Grande Obra. 

É fundamental o estudo de forma ampla, mesmo que se pretenda aprofundar em uma área — ou faceta — específica da Alquimia. Meu estudo é da consciência, dos meios de se utilizar os processos e operações alquímicas na minha transformação interior, mas isso não tira a necessidade de um estudo global.

Então, vamos contar um pouco de história aqui. Vamos pensar que, embora a Arte Alquímica tenha tido alguma expressão em alguma época anterior ao séc. I a.C, é algo difícil de rastrear. Ela floresceu na Grécia no séc. II e III a.C e depois teve um declínio gradual até o séc. X. 

Neste período, diversos textos foram transportados e traduzidos para o Árabe e foi aí que, após os séculos XVII e XVIII, ela teve novamente um período de florescimento e evoluiu para a história da química. 

Por volta do séc. X, foi expressiva na civilização cristã por meio dos árabes e judeus na Espanha e na Sicília. Posteriormente, invadiu os países ocidentais, uniu-se à Filosofia Escolástica e seguiu com seu desenvolvimento posterior. 

Não precisamos nos deter demais na história, mas é importante verificar o quanto ela percorreu o ocidente em diversos períodos. Inclusive, a Alquimia também teve expressão no oriente, mas isso é assunto para um outro post.

Alquimia Introvertida e Extrovertida

Como já dissemos, a Alquimia teve dois pilares: um extrovertido e outro introvertido. O primeiro era pautado na tecnologia egípcia — uma técnica químico-mágica quase sempre acompanhada de representação religiosa. O segundo aspecto era pautado na Filosofia racional grega, ou filosofia da natureza — que era o pensamento racional relativo às questões da natureza, da matéria, do espaço e do tempo. Sendo assim, podemos dizer que a Alquimia surgiu da união desses dois aspectos.

Aspecto Extrovertido da Alquimia

Do ponto de vista extrovertido, e tendo como herança a tecnologia egípcia, a Alquimia se baseia em receitas, manuais, ou seja, o lado mais instrutivo da coisa. É interessante também observar que os egípcios não pensavam muito nas técnicas químico-mágicas que executavam.

Essas técnicas, como já foi dito, eram utilizadas quase sempre em determinado campo da vida religiosa. Um exemplo é o processo de mumificação e outros rituais que tinham, no Egito, quase sempre ligação com a vida pós-morte.

O fato é que os egípcios operavam suas técnicas químico-mágicas, mas não pensavam sobre ela, nem teoricamente e muito menos filosoficamente. Havia apenas a transmissão de receitas práticas acompanhadas de representação religiosa. Nada mais. 

Mas, por outro lado, vemos nessas práticas egípcias — ou herança egípcia, como costumo dizer — muitos pontos que a Alquimia herdou. Por exemplo, os egípcios acreditavam na integração com a divindade. Além disso, que:

“… há uma espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egípcio, um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros e os pode absorver.”

Semelhanças entre as técnicas egípcias e a Alquimia

No Egito, tudo tinha significado religioso e, no processo de mumificação em especial, o uso dos procedimentos químicos tinha o objetivo de obter uma integração com a divindade no pós-morte. 

Além disso, é interessante saber que os egípcios herdaram da magia africana a ideia de que as coisas materiais carregam uma espécie de maná, ou seja, que essas coisas materiais são portadoras de forças divinas. Que ao misturar materiais, estava misturando também coisas divinas e, assim, operando mudanças no reino das forças divinas.

Por fim, os egípcios apropriaram dos sumérios e dos babilônios algo que hoje a Alquimia utiliza nos seus processos, que é uma técnica bastante desenvolvida para obter ligas de diferentes metais. E olha que interessante: eles operavam essas técnicas de acordo com as constelações astrológicas. Daí, vemos um aspecto essencial da tradição alquímica, que é a relação entre Alquimia e Astrologia. 

Tanto na Alquimia quanto nas práticas egípcias para obter ligas de metais, ao se trabalhar com determinado metal era necessário esperar a época adequada. Se o trabalho era feito com ferro, a época adequada é a que o planeta Marte (divindade do ferro) está constelado de forma favorável. 

Essa é apenas uma breve análise para que possamos compreender de onde vem a ideia de que a Alquimia tem, nas suas origens, uma certa herança com as práticas egípcias. 

Aspecto Introvertido da Alquimia

Como já dissemos, a Alquimia é a união da vertente extrovertida e introvertida, união da tecnologia químico-mágica do Egito e da filosofia racional grega. 

A filosofia racional grega se ocupava de conceitos relacionados à matéria, ao tempo, ao espaço; assim como o conceito de energia, partícula e tantos outros que foram objeto de estudo e reflexão de vários filósofos da época.

Desta vertente, a Alquimia herdou a sua parte mais introvertida, o fato de refletir e meditar sobre o que estava sendo operado tanto no laboratório quanto na consciência. Neste aspecto, refletia-se muito teoricamente e filosoficamente, mas sem nunca experimentar na prática essas teorias.

Alquimia Introvertida
Para a Alquimia, nós também somos parte do mistério da existência cósmica.

E não era só isso. Como bem disse Marie-Louise Von Franz no livro “Alquimia e a Imaginação Ativa”:

“… sob o manto dessas tradições religiosas sincréticas, aqueles que eram, por temperamento, de orientação mais religiosa geralmente procuravam algo mais real e mais concreto, algo que lhes tocasse não apenas a mente, mas também o coração, e se dedicavam mais e mais a certos cultos de mistérios.”

Diferentemente da vertente extrovertida, com seu aspecto prático e “de receita”, a vertente introvertida — muito bem representada por Zózimo — era aquele em que os alquimistas anotavam seus próprios sonhos, utilizando-os como fonte de informações sobre o que estava operando no laboratório — inclusive da alma. 

Esses alquimistas anotavam seus próprios sonhos e tentavam utilizá-los, bem como o significado desses sonhos, como uma fonte de informações sobre o que estavam fazendo. Para eles, o trabalho não era apenas com materiais externos, mas também, com igual pertinência, deveria ser consigo, detendo o olhar para si mesmo a fim de obter informações pertinentes.

Para a Alquimia — sobretudo a introvertida —, nós também somos parte do mistério da existência cósmica e, por isso, merecemos ser observados e trabalhados alquimicamente.

Introvertidos e Extrovertidos ao longo da história

Interessante observar que essa “divisão” entre introvertidos e extrovertidos se manifestou também entre os árabes, quando se interessaram pela Alquimia. 

Por lá, os xiitas eram os introvertidos e os sunitas representam a linha extrovertida, sendo o árabe xiita Mohammed ibn Umail um introvertido de renome; e o sunita Al-Razi como extrovertido, que inclusive, introduziu na química o que chamou de ciência da balança ou ciência do equilíbrio.

No ocidente, Alberto Magno representou bem o grupo dos alquimistas extrovertidos, pois adotou principalmente o aspecto químico. Outros, adotaram o aspecto mais místico da Alquimia, os textos xiitas e as tradições platônicas, esses referenciando os aspectos filosóficos da Arte.

Espero que tenha gostado do texto e, principalmente, compreendido. Se quiser compartilhar alguma dúvida, pode deixar um comentário. Será um prazer responder.

Aos que estão iniciando o estudo da Alquimia, gostaria indicar nossos e-books. Eles são ótimos para quem está começando e precisa de uma linguagem simples. Confira aqui. Acompanhe também nossas publicações também no Instagram: @arte_hermetica. E acompanhe nossos episódios no Podcast “Solve et Coagula”.

Sobre o autor | Website

À medida que realizo meus estudos alquímicos e que busco praticar os ensinamentos da Grande Arte, trago para este espaço informações e dicas para todos aqueles que, assim como eu, enxergam a Alquimia como possibilidade de transformação e evolução.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Seja o primeiro a comentar!